No
ano passado, enquanto passava pelo Largo do Cambuci, em São Paulo (SP), a
ativista Maria Fernanda Prado Orsini ‘flagrou’ um momento de puro amor e
amizade entre um morador de rua e sua cachorrinha: eles estavam dormindo
juntos, esquentando um ao outro. Encantada pela cena, Maria tirou uma foto.
No
dia seguinte, pela manhã, voltou a encontrá-los no mesmo local, agora
acordados. Foi até o morador de rua, um senhor de idade, e mostrou a ele a
fotografia. Ele adorou o registro e, sorridente, passou um bom tempo
conversando com Maria.
A
ativista logo descobriu seu nome – Ivanildo – e da sua fiel escudeira, Tullyy.
O
homem estava naquela situação por conta de um alcoolismo crônico, que drenou
sua vida em família e seu trabalho. Durante a conversa, Ivanildo também contou
que tinha sérios problemas na coluna e era completamente cego de um olho.
Sensibilizada
por sua história e condição de vida, Maria começou a levar algumas vezes por
semana ovos cozidos e sal para lanchar ao lado de Ivanildo e de Tullyy.
Em
um esforço contínuo para se manter sóbrio, o morador de rua confeccionava
panelinhas e cinzeiros artesanais, feitos com latas de refrigerante, para
vender na rua e tentar tirar algum sustento. Entre uma venda e outra, conseguia
continuar subsistindo, ao mesmo tempo que alimentava sua cachorrinha.
Maria
Fernanda conta que há cerca de seis meses, repentinamente, Ivanildo perdeu a
visão de um olho, ficando completamente cego. “Ficou complicado incentivá-lo a
manter-se sóbrio e ele caiu com fé na cachaça.
Só
se via este homem caído, completamente bêbado, com a Tullyy deitada em cima pra
protegê-lo. E ai de quem se aproximasse! Muito pouco se podia esperar dessa
situação. Ou quase nada, mas não perdemos a esperança”, relata.
Eventualmente,
um morador das redondezas resolveu procurar a família de Ivanildo pela
internet. E a encontrou! Com sorte, eles ainda moravam em Olinda, Pernambuco.
Uma irmã e um sobrinho vieram de surpresa ao encontro dele.
Estavam
há mais de 30 anos sem notícias e sem saber o paradeiro do morador de rua.
“Achavam que ele estava morto”, conta Maria Fernanda. “Eles chegaram aqui no
início do mês e conseguiram o dinheiro necessário para o retorno dos quatro –
Tullyy incluída, é claro.”
Na
segunda-feira passada (16), houve despedida. Maria Fernanda conversou com
Ivanildo uma última vez, desejou-lhe sorte, abraçou-lhe e pela madrugada,
Ivanildo embarcou rumo à Pernambuco – de avião.
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