Como
uma ilha perdida em um mar verde, uma grande massa de pedras negras se destaca
contra o céu do nordeste da Austrália, destoando de tudo a sua volta. Essa é a
região das “Black Mountains”, conhecida pelo povo aborígene como
"Kalkajaka" (A "Montanha da Morte" em dialeto aborígene).
Segundo
as tradições, trata-se do lugar mais assustador do mundo, localizado no
território de Queensland, a apenas 25 quilômetros ao sul de Cooktown.
Os
aborígenes evitam esse lugar a todo custo, aludindo a antigas lendas repletas
de horror e medo. Os homens brancos se surpreendem com a quantidade de pessoas
que tentam explorar essa região e que jamais são vistos novamente, como se
tivessem sido engolidos pela terra. Pássaros e animais também evitam essa área
erma e silenciosa.
Até
mesmo aviões raramente cruzam o céu, uma vez que relatos sobre estranhas
turbulências e perturbações magnéticas, já causaram inúmeros problemas a
aeronaves. Em 1991, um avião à serviço do “Bureau de Recursos Minerais” voava
sobre “Black Mountain” seguindo para o norte.
Utilizando
um magnetômetro de hélio e um espectrômetro, a tripulação conduzia testes para
averiguar a presença de rochas magnéticas e fazer a medição dos níveis de radiação.
Os resultados foram negativos, mas de repente uma repentina turbulência,
surgida do nada, derrubou o avião.
Os
mistérios que cercam os desaparecimentos e ocorrências sobrenaturais continuam
desafiando os céticos. As pessoas que habitam a região próxima alertam os
exploradores:
“Qualquer
um disposto a explorar Kalkajaka deve estar bem equipado e preparado para enfrentar
muitos perigos – desde deslizamentos, areia movediça e cânions, até se deparar
com uma infinidade de serpentes venenosas."
As
“Black Mountains” surgem abruptamente na paisagem, como se fosse um colossal
monte de carvão, descarregado por milhares de caminhões no meio de uma vastidão
de árvore verdejantes, em sua maioria eucaliptos.
Essa
montanha tem três quilômetros de comprimento, e o que parecem pedaços de carvão
são na realidade grandes pedregulhos negros, alguns com até seis metros. Uma estrada
tortuosa conduz até o topo. Lá no alto, existe uma parada para descanso com um
mirante de onde se pode contemplar a paisagem selvagem.
Segundo
geólogos, essas montanhas se formaram há cerca de 250 milhões de anos atrás.
Elas são o resultado da produção de magma endurecido que gradualmente sofreu
erosão, atingindo uma altura máxima de 300 metros.
Em
face de fatores climáticos, os colossais blocos de basalto negro se
deterioraram, esfacelando-se em milhares de peças individuais de todos os
tamanho e formas.
Mas
os entusiastas de mistérios tem uma opinião diferente a respeito da formação de
Kalkajaka. Embora o processo geológico seja um padrão reconhecido para a
formação dessas montanhas, as “Black Mountains” apresentam características
peculiares.
É
por isso que muitas pessoas afirmam que esse relevo parece ter sido de alguma
forma construído por meios artificiais.
Alguns
vão mais longe, afirmando que restos de uma antiga civilização, datando da
aurora da humanidade (ou talvez até mais antiga que o próprio homem) pontilham
a região.
Os
recessos da montanha esconderiam segredos assombrosos: pinturas rupestres
representando magníficas cidades e seres estranhos, haveriam ainda ruínas de
reinos fantásticos com torres e cúpulas abobadadas, câmaras profundas repletas
de artefatos desconhecidos e, é claro, riquezas incríveis.
Segundo
os aborígenes, existe um caminho que conduz ao coração da montanha, mas ele é
guardado pelos espíritos dos mortos, por demônios abomináveis e milhares de
serpentes venenosas que agem como guardiões desses segredos.
Lendas
antigas e modernas mencionam um portão que leva a um império subterrâneo, um
dia habitado por uma espécie de seres muito diferentes da raça humana.
Outras
estórias mencionam uma raça "reptiliana" servida por humanos
degenerados transformados em escravos para servir às suas vontades. Fala-se
ainda em tecnologia avançada, de magia utilizando cristais e de coisas
desconhecidas que homem algum deveria conhecer.
Nas
tradições orais do povo aborígene, as ”Black Mountains” sempre fizeram parte de
narrativas aterrorizantes. Até os dias atuais, vigora um tabu a respeito de
tudo que envolve essa região. Os poucos nativos que aceitam falar a respeito
dela, afirmam que se trata de um lugar maldito, onde imprevisíveis eventos
sobrenaturais tendem a ocorrer.
Alguns
mencionam presenças indescritíveis, uma sensação palpável de estar sendo
observado e de sons misteriosos que não pertencem a nenhum animal conhecido.
Comentam
que objetos de metal se comportam de modo estranho, sendo atraídos por forças
invisíveis, sente-se odores nauseantes e um ruído persistente e enervante no
fundo da mente.
Se
nada disso fosse suficiente para multiplicar os boatos, a própria natureza
parece conspirar contra a presença de visitantes. Muitas das estórias sobre
aventureiros que visitam as “Black Mountains” terminaram de forma trágica.
Estima-se
que centenas de pessoas simplesmente sumiram enquanto vagavam pelas montanhas.
Os corpos de muitos foram resgatados, a maioria vítima de acidentes envolvendo
quedas fatais, mas eventualmente circunstâncias mais estranhas.
Ao
menos é nisso que acreditam os frequentadores do “Lion Den Inn”, um dos pubs
mais populares da “Península de Cape York”. O bar em Cooktown é o ponto de
encontro de habitantes, de aborígenes, bem como dos ocasionais turistas que são
atraídos pela aura de mistério que permeia a região.
O
“Lion Den” é um ótimo lugar para ouvir estórias contadas por pessoas como Pete
Fitzgerald, que vive na cidade há mais de 40 anos.
"Mesmo
que você seja um cético, como eu me considero, é impossível descartar todas as
coisas esquisitas que acontecem nas “Black Mountains”. Eu vi com meus próprios
olhos gente sendo resgatada em completo desespero depois de se perder e passar
alguns dias vagando sem rumo.
Participei
de pelo menos três grupos de busca, formados por voluntários para resgatar
pessoas perdidas, e posso dizer que senti algo estranho ao visitar essa
montanha" conta Fitzgerald para quem quiser ouvir, entre um gole de
cerveja e outro.
"Há
estórias ainda mais antigas a respeito de uma tribo inteira de aborígenes que
se escondeu para fugir de inimigos e que desapareceu sem deixar vestígios.
Falam
de animais que evitam a área... pois bem, eu vi cães usados por grupos de
resgate ganindo e uivando, só de chegar perto do Kalkajaka. Um desses animais,
chegou a atacar seu treinador e quando se soltou dele, correu para um
despenhadeiro e saltou lá embaixo. E isso não é estória, eu vi
acontecer!".
Segundo
Fitzgerald e outros frequentadores do pub, os aborígenes temem a montanha por
conhecer intimamente os seus segredos. "Mas boa sorte ao tentar tirar
deles qualquer estória sobre o Kalkajaka. Eles evitam até falar esse nome,
alguns sequer olham na direção das montanhas".
Claro
que muitas das estradas construídas e a infraestrutura assentada nos anos 1950
foi trabalho de nativos, mas estes se recusavam categoricamente a passar a
noite nas proximidades da montanha.
Mesmo
hoje em dia, a população de aborígenes em Cooktown e arredores é pequena em comparação
a outros territórios. Mesmo os nativos mais integrados a cultura britânica e
afastados de suas próprias tradições, respeitam os costumes tribais no que
tange às “Black Mountais”.
Uma
das únicas lendas compartilhadas pelos aborígenes a respeito do Kalkajaka, diz
que quando o mundo ainda era jovem e a raça humana apenas engatinhava, viviam
naquelas montanhas membros de uma tribo maligna conhecida como
"Devoradores de Carne".
Esta
tribo praticava rituais terríveis, adoravam demônios que viviam no interior da
montanha e ofereciam a eles sacrifícios em troca de conhecimento e magia.
Tão
grande era o terror que despertavam nas tribos vizinhas que estas concordaram
em pagar um tributo aos feiticeiros, enviando-lhes mulheres e crianças para que
estes satisfizessem seus apetites.
Um
dia, uma vítima escapou e não havendo ninguém para oferecer em seu lugar, as
tribos falharam em fazer a sua oferta. Sentindo que sua autoridade estava sendo
desafiada, os “Devoradores” desceram a montanha na direção de um vilarejo. Lá
capturaram várias vítimas que encontraram adormecidas e os arrastaram consigo
para seu refúgio.
Sabendo
que as tribos jamais teriam paz enquanto vivessem nas “Montanhas Negras”, elas
decidiram deixar tudo para trás e partir. Apenas a fome poderia acabar com os
“Devoradores”, a lógica é que se lhes fossem negado sacrifícios para aplacar o
desejo dos Demônios, estes iriam se voltar contra eles.
As
tribos então partiram para longe, onde não poderiam ser alcançadas. Desde
então, homens e animais passaram a evitavam o Kalkajaka e os “Devoradores de
Carne” desapareceram.
Mas
ao contrário dos homens que podem morrer, os demônios que vivem dentro da
montanha continuam vivos e não perdem a chance de agarrar vítimas.
Naturalmente
tudo isso parece nada mais do que superstição, mas a maioria dos habitantes de
Cooktown comenta que as montanhas realmente tem uma aura perturbadora. Eles
citam os ruídos incomuns que são ouvidos à noite: o som de lamentos, choro,
melodias alienígenas e tremores que parecem vir do chão.
Eles
dizem que esses sons abafados parecem exercer alguma influência sobre as
enormes pítons, as traiçoeiras serpentes venenosas, únicos animais a habitar as
“Black Mountains”. O consenso é que as montanhas são perigosas, melhor
portanto, ficar longe delas.
Rob
Neubarth, que é atualmente o Guarda Florestal de Cooktown já esteve em
Kalkajaka muitas vezes e conta:
A
maioria das pessoas que explora as montanhas, prefere fazê-lo durante o dia e
são raros os que passam a noite por lá. Alguns contam que parece existir uma
aura inquietante pesando sobre as montanhas, algo que causa uma angústia quase
sobrenatural.
Pessoas
se queixam de dores de cabeça e náusea, apenas depois de ficarem algumas horas
por lá. Além disso, as trilhas são íngremes e pedregosas, não havendo um único
lugar adequado para montar acampamento. No topo, a única vegetação que
proporciona alguma sombra são as árvores retorcidas e os arbustos cheios de
espinhos.
Os
blocos de pedra lisa esquentam horrivelmente e esse calor fica retido durante a
noite. É possível sentir através da sola dos sapatos o calor que vem do chão.
Nos recessos escuros na montanha se ergue um fedor cáustico de enxofre que
domina o lugar, e não há vento que o afaste.
Mas
o pior é a escuridão, quando a noite vai chegando e as sombras das montanhas se
projetam nas pedras. Tudo fica muito escuro. Você não enxerga um palmo diante
do nariz e mesmo as lanternas parecem não iluminar a escuridão.
Rob
fez parte de diversos grupos de busca e resgate e sempre que encontra viajantes
e turistas interessados em explorar as Montanhas tenta dissuadi-los de acampar
no local:
Acampar
em Kalakajaka é uma péssima ideia, mesmo para campistas experientes. Não há
água, não há iluminação e o terreno é péssimo. Além disso há serpentes venenosa
que não se intimidam com a luz das fogueiras.
Se
uma pessoa for mordida lá em cima, será muito difícil chegar à cidade à tempo
de ser socorrida. Quem escala essa montanha disposto a passara noite, só vai
conseguir sair de lá quando amanhecer.
O
guarda florestal diz que não acredita em histórias sobrenaturais, mas segundo
ele, Kalkajaka oferece um terreno extremamente perigoso e desafiante. O tipo do
lugar onde o menor descuido pode resultar em um acidente fatal.
Outro
morador de Cooktown e um dos maiores pesquisadores a respeito das “Montanhas
Negras” é Hans Lowel, que afirma ter explorado o local várias vezes.
Hoje
um sexagenário, Hans desistiu de suas aventuras e se dedica a compilar os mitos
e lendas aborígenes sobre a região. Ele afirma que os mistérios das montanhas
vão muito além de meros rumores espalhados por nativos supersticiosos e
exploradores bêbados.
"Existem
registros que mencionam eventos inexplicáveis por essas bandas", conta ele
sorrindo enquanto mostra alguns antigos papéis amarelados cuidadosamente
guardados em caixas de arquivo no seu apartamento. Um desses papéis é o
relatório de um policial de Cooktown, o Sargento McGuillian, escrito há mais de
70 anos.
Segundo
o relatório de McGuillian os casos estranhos começaram logo depois da chegada
dos primeiros colonos que se estabeleceram na região. O primeiro acidente fatal
reportado, data de 1877; a vítima foi um homem chamado Grayner, que estava
explorando as montanhas e caiu em um fosso.
Seu
corpo foi encontrado dias depois, "a cabeça torcida em um ângulo
estranho" segundo testemunhos da época e "seus ossos estavam todos
partidos". Algum tempo depois, um ladrão de banco chamado Sugarfoot Jack e
dois comparsas se esconderam nas “Black Mountais”, após um tiroteio.
As
autoridades procuraram pelos bandidos, mas tudo o que encontraram foi um
acampamento arruinado que tinha sido abandonado. Na pressa, os bandidos haviam
deixado para trás até o dinheiro do roubo e seus cantis de água.
Os
policiais encontraram sinais de luta e rastros de sangue que terminavam
abruptamente num despenhadeiro. Treze anos depois, o delegado de Cooktown
desapareceu nas montanhas enquanto procurava um prospector que também havia
sumido.
Grupos
de busca encontraram rastros que conduziam para uma ravina e no fundo dela
acharam uma mochila que pertencia ao policial, mas nada de seu paradeiro.
Os
rumores a respeito de ouro nas “Black Mountains” atraíram vários prospectores
no começo do século e muitos deles simplesmente foram engolidos pela montanha.
Os números não são oficiais, mas algo entre 25 e 70 pessoas teriam sumido
durante esse período.
Um
dos casos mais famosos envolve um fazendeiro chamado Harry Owens, proprietário
do “Rancho Oakley Creek”. Em 1924 ele subiu as montanhas à cavalo, em busca de
um novilho que havia se desgarrado.
Quando
Owens não voltou, seu capataz, George Hawkins, alertou a polícia, e foi em
busca do patrão. Quando as autoridades se juntaram a busca, Hawkins também
havia desaparecido. Dois aborígenes que trabalhavam para a polícia como
rastreadores encontraram rastros que conduziam a uma caverna natural.
Os
dois aborígenes entraram na caverna rochosa, mas apenas um voltou aterrorizado.
Ele balbuciou coisas sem sentido e disse ter sido perseguido por monstros
horríveis que viviam dentro da caverna.
Em
1947, dois exploradores britânicos decidiram mapear essas cavernas a fim de
determinar o que havia acontecido anos antes. Encontraram várias pinturas
rupestres nas paredes e vestígios de que as cavernas haviam sido habitadas num
passado remoto por nativos, mas não acharam nenhum sinal das pessoas que
desapareceram em seu interior.
Nas
décadas seguintes os rumores continuaram, viajantes ocasionais sumiam ou
morriam em Kalkajaka, o que ajudou a consolidar a sua fama de assombrada.
Os
mistérios das “Black Mountains”, no entanto, podem ter uma explicação mais
razoável: Aqueles que não conseguem encontrar a trilha através do labirinto de
pedras, simplesmente não conseguem retornar. Se perder nesse terreno é
especialmente perigoso já que não há comida ou água para garantir a
sobrevivência por muito tempo.
Além
disso, as serpentes venenosas são um perigo constante. A paisagem escura e
desolada pode desencadear a perda de orientação e qualquer descuido, como por
exemplo cair em um recesso pode ser fatal.
Uma
vítima despencando em uma fissura natural, pode simplesmente desaparecer e
jamais vir a ser achado. Os sons estranhos ouvidos podem ser decorrentes de
rochas se partindo com o calor acachapante ou o assovio furioso do vento dentro
das cavernas.
Mas
diante de tantas estórias e lendas, é virtualmente impossível afastar o temor
despertado por Kalkajaka. (Fonte: Blog Mundo Tentacular)