Mas,
quando o termo apareceu pela primeira vez, o cenário era bem diferente. Os
vampiros sugiram no início do século 18 na fronteira da Áustria com a Hungria.
Embora
desde os tempos mais remotos, divindades, bruxas, fantasmas e outras variedades
de demônios que sugavam o sangue humano tenham feito parte do imaginário de
quase todas as culturas, várias fontes afirmam que a palavra
"vampiro" foi escrita pela primeira vez em 1725, no relatório de um
médico do exército do "Sacro Império Romano-Germânico".
Após
a vitória contra o "Império Otomano", em Petrovaradin (1716) e o "Cerco de Belgrado" (1717), que levaram à assinatura do "Tratado de Passarowitz", a Áustria anexou
grandes extensões da Sérvia ao seu território.
E,
ao chegar às terras dos povos eslavos, os austríacos se depararam com relatos
sobre essas estranhas criaturas, das quais nunca tinham ouvido falar antes.
Em
um período de oito dias, nove pessoas morreram subitamente na cidade de
Kisilova, após terem recebido supostamente a visita noturna de um homem chamado
Petar Blagojević, que teria mordido as vítimas e chupado seu sangue.
O
problema é que Blagojević estava morto e havia sido enterrado 10 semanas antes.
Os moradores pediram permissão então para exumar seu corpo e, no papel de nova
autoridade local, o superintendente austríaco Frombold acompanhou o
procedimento.
No
relatório que enviou para Viena – o mesmo em que escreveu a palavra
"vampiro" –, ele descreveu o que viu: "O rosto, as mãos e os
pés, e todo o corpo estavam tão bem constituídos, que não poderiam ter estado
mais completos em sua vida.
Com
espanto, vi um pouco de sangue fresco em sua boca, que – de acordo com os
relatos – havia sido sugado das pessoas mortas por ele... assim, ao ser
perfurado, um monte de sangue, completamente fresco, também jorrou de seus
ouvidos e boca, e aconteceram outras manifestações que não descrevo por
respeito."
Como
era costume na região, eles cravaram uma estaca no coração do cadáver e
cremaram o corpo. Um jornal em Viena publicou a notícia, e o fenômeno se
espalhou pela região.
Em
poucos anos, o vampirismo parecia ter se tornado uma epidemia na Europa
Oriental. Muita gente achava que o governo precisava tomar uma atitude em
relação à suposta epidemia
O
imperador enviou equipes de cirurgiões militares para realizar autópsias e
investigar o que estava acontecendo. Esses especialistas constataram, por sua
vez, que os casos eram notavelmente consistentes.
Pesquisadores
da área médica publicaram dezenas de artigos e livros sobre o assunto. O
vampirismo se tornou então uma condição reconhecida, testemunhada por um grande
número de pessoas, que apresentava sinais e sintomas característicos, como
cadáveres com sangue fresco correndo em suas veias e vísceras; sangue ao redor
da boca, "por ter se alimentado"; pele rosada; corpos volumosos, etc.
Ironicamente,
o vampiro ocidental surgiu em plena "Era da Razão". O
século 18, conhecido como "Século das Luzes", foi palco do "Iluminismo", movimento que pregava o uso da luz da razão contra as trevas da
ignorância.
Neste
contexto, os vampiros eram um tema que despertava calorosos debates na Europa. Teólogos
argumentavam que os vampiros eram seres físicos que demonstravam a existência
de uma vida após a morte.
Filósofos,
por outro lado, se preocupavam com o fato de que as evidências disseminadas
sustentando a existência de vampiros lançassem dúvidas sobre o valor do
testemunho e de testemunhas oculares.
Até
mesmo o filósofo francês Voltaire se manifestou sobre o assunto, quando em
1764, questionou: "O quê?! Em pleno século 18 existem vampiros?"
"São
cadáveres que deixam seus túmulos à noite para chupar o sangue dos vivos, seja
em suas gargantas ou seus estômagos, e depois retornam aos seus
cemitérios."
"Enquanto
as vítimas empalidecem e são consumidas, os cadáveres que sugam o sangue ganham
peso, ficam rosados e desfrutam de um excelente apetite."
"É
na Polônia, na Hungria, na Silésia, na Morávia, na Áustria e na Lorena que os
mortos se divertem tanto." "Nunca ouvimos uma palavra sobre vampiros
em Londres, nem sequer em Paris."
"Admito
que nas duas cidades há corretores da bolsa e homens de negócios que sugam o
sangue das pessoas em plena luz do dia; mas, embora corrompidas, não estão
mortas. Esses verdadeiros vampiros não vivem em cemitérios, mas em
palácios."
O
que estava acontecendo? Mas como explicar a epidemia de uma doença mortal que
não existe?
Alguns
pesquisadores atribuem o fenômeno a grandes traumas e decepções, outros à
alimentação, ao uso acidental de drogas que causam alucinações e a doenças
altamente contagiosas.
Outras
teorias fazem referência à presença de substâncias químicas incomuns na terra
que afetavam a decomposição dos corpos.
De
fato, a origem de algumas características descritas pelos médicos legistas da
época poderia ser precisamente a decomposição.
É
importante lembrar que, no passado, não era comum observar o processo de
putrefação dos corpos, uma vez que eram fonte de contaminação.
Hoje
sabemos que o "rigor mortis" (rigidez cadavérica) passa, por isso a flexibilidade
de muitos "vampiros" surpreendia a quem os desenterrava.
Em
alguns cadáveres, o sangue coagula, mas se liquefaz novamente. Os gases no
abdômen aumentam a pressão à medida que o estado de putrefação avança, forçando
os pulmões para cima e, algumas vezes, expulsando o tecido em decomposição da
boca e das narinas.
O
inchaço provocado pelos gases bacterianos após a morte explica por que os
corpos parecem roliços e saudáveis, e também os "gemidos sonoros" que
alguns mortos soltavam quando as estacas eram encravadas em seu coração ou
estômago.
O
vampiro aristocrata
Um século depois, um médico inglês chamado John
Polidori escreveu o primeiro romance sobre vampiros em inglês. Ele transformou
o vampiro em um aristocrata, abrindo caminho para o clássico de Bram Stoker, "Drácula", publicado 78 anos depois.
A imagem da criatura elegante que povoa hoje em dia o
imaginário popular se deve a "Polidori", "Stoker" e a dezenas de contos sobre
vampiros vitorianos.
Mas vale lembrar que o tema foi analisado pela primeira
vez por médicos, políticos e filósofos. (Fonte: MSN)
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